quarta-feira, 11 de julho de 2012

Autores do programa da matemática temem que os alunos do 4º ano sejam prejudicados no próximo ano

Como esta é uma questão que também me preocupa não posso deixar de fazer aqui eco de uma noticia do "O Publico" sobre as Metas de Aprendizagem que estão em discussão pública.

"Os autores do programa de Matemática para o ensino básico, actualmente em vigor, estão contra as metas curriculares e temem que estas tenham "consequências negativas para a aprendizagem dos alunos". Para Filipe Oliveira, um dos autores das metas, estas servem para "estruturar um programa vago e pouco rigoroso".
As metas pretendem alterar o que os professores "têm vindo a procurar concretizar na sua prática de ensino, no quadro do programa de Matemática em vigor", dizem os autores, lembrando que o ministro Nuno Crato tem afirmado publicamente que a intenção é a de manter o programa. Contudo, as metas "propõem um novo programa muito distinto do programa actual tanto na sua estrutura lógica global como em aspectos importantes dos conteúdos matemáticos", reflectem no comunicado enviado ao PÚBLICO.


Os autores criticam o "carácter muito espartilhado e fragmentado" das propostas, reduzindo a margem de autonomia dos professores e prejudicando a "aprendizagem matemática integrada e articulada". Lamentam a introdução de conceitos "totalmente desadequados" aos anos e a "exclusão indevida" de conceitos que constam no actual programa, bem como a introdução de conteúdos que não estão previstos no programa.


"É natural que apareçam estas críticas quando se elaboram metas curriculares que pretendem estruturar um programa vago e pouco rigoroso (na realidade, o programa é mais uma recolha de indicações e ideologias metodológicas antiquadas)", considera Filipe Oliveira, um dos autores das metas, professor do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.


A linguagem utilizada nas metas é "desapropriada" e "alheia à natureza e características da matemática escolar". As metas não promovem a compreensão, o cálculo mental, o raciocínio e a comunicação matemática, acusam os autores.


Para Filipe Oliveira, "introduzir mais coerência e exigência no ensino leva naturalmente a este tipo de reações por parte de quem defende há anos um ensino desestruturado, pouco conexo e pouco exigente". O professor defende ainda que as metas devem utilizar "o vocabulário próprio da Matemática, que qualquer professor, pela sua formação, compreende". "Até esse vocabulário é aparentemente recusado pelos autores do programa, numa atitude que claramente coloca em causa a capacidade dos docentes. Nós acreditamos no empenho e competência dos professores, que, com o fim do dirigismo pedagógico ditado pelos autores do programa poderão finalmente trabalhar com mais eficácia e serenidade", conclui.


A carta dos autores do programa do ensino básico está assinada por João Pedro da Ponte, professor do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa (IE/UL); Lurdes Serrazina, professora da Escola Superior de Educação do politécnico de Lisboa; Henrique Manuel Guimarães, do IE/UL; Ana Breda, da Universidade de Aveiro; Fátima Guimarães, professora do 2.º ciclo; Hélia Sousa, professora do 1.º ciclo; Luís Menezes, professor do politécnico de Viseu; Maria Eugénia Graça Martins, da Faculdade de Ciências da UL; e Paulo Oliveira, professor do 3.º ciclo.


As metas curriculares vão estar a discussão pública até dia 23 de Julho. De recordar que os autores das metas agora apresentadas não ouviram os autores das metas e dos programas aprovados durante os governos socialistas.


João Pedro da Ponte contrapõe: "onde existe dirigismo pedagógico é nas metas, pelo seu carácter extremamente detalhado e prescritivo, que indica em cada ano a abordagem a fazer a cada tópico, por vezes por caminhos que a prática tem mostrado serem pouco produtivos". O uso da linguagem da matemática universitária em documentos de orientação do ensino básico, "que desde há muitas décadas assumem uma linguagem própria, mais adequada aos seus objectivos", também é criticada. "Em lugar de 'esclarecedoras', estas metas são geradoras de confusão."

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